Sumário
Parte I – Joyce
A Portrait of the Artist (1904)/Um retrato do artista
James Joyce
Tradução: Bernardina da Silveira Pinheiro
Parte II – Retratura
James Joyce – Nota biográfica
Jacques Aubert
Tradução: Olga M C Souza
Prólogo a Um retrato do artista quando jovem
Jacques Aubert
Tradução: Analucia Teixeira Ribeiro
A tradição e o novo romance
Maurice Beebe
Tradução: Bernardina da Silveira Pinheiro
Joyce e a metáfora dissociada
Frank O ‘Connor
Tradução: Bernardina da Silveira Pinheiro
O desenvolvimento da imaginação
Richard Ellmann
Tradução: Bernardina da Silveira Pinheiro
O artista
Harry Levin
Tradução: Bernardina da Silveira Pinheiro
O retrato em perspectiva
Hugh Kenner
Tradução: Paulo Henriques Britto
Parte III – Epifanias
Epiphanias / Epifanias
James Joyce
Tradução: Bernardina da Silveira Pinheiro
As epifanias de Joyce
Irene Hendry Chayes
Tradução: Bernardina da Silveira Pinheiro
Evolução da noção de epifania
Héléne Cixous
Tradução: Olga M. C. Souza
A doutrina da epifania e seu contexto
Héléne Cixous
Tradução: Claudia Moraes Rego
Epifanias
Catherine Millot
Tradução: Claudia Moraes Rego
Parte IV – Psicanálise e texto
Um retrato do artista quando jovem – uma introdução
Jacques Aubert
Tradução: Analucia Teixeira Ribeiro
Joyce pelo lado do fantasma
Jean Guy Godin
Tradução: Olga M. C. Souza
Joyce, da confissão (aveu) à escritura da falta
Annie Tardits
Tradução: Claudia Moraes Rego
Sentimento de culpa em Stephen Dedalus: Freud / Lacan
Bernardina da Silveira Pinheiro
Da memória às Memórias
Olga M. C. Souza
Retratura de Joyce, escrita e sinthoma
Eduardo Vidal
Entrevista
Jacques Aubert / Eduardo Vidal
Tradução: Paloma Vidal
Apresentação
O analista na extensão presentifica a psicanálise no mundo através de uma escuta – leitura que opera sobre textos. O texto do mundo não se dá a ler espontaneamente. Não está lá pronto para ser lido. O analista o recorta no real. Seu corte é guiado por uma transferência alterada, a transferência de trabalho. Esta atualiza o inconsciente; mas no analista, aquele que atravessou uma análise, a transferência atualiza um desejo avisado de sua impossibilidade, o que aponta, portanto, incessantemente para o real.
Esta publicação é o recolhimento (o que restou) de uma operação deste tipo: com Lacan, lemos Joyce, fazendo em turbilhão novo texto, nova tessitura.
Entendemos que a entrevista realizada com Jacques Aubert e as traduções são momentos desta escuta-leitura, que se entrelaçam com os textos por nós produzidos sobre Joyce: psicanálise em extensão, clínica do texto do mundo.
Sobre a atividade tradutória: será como mero esforço editorial que analistas traduzem? Parece-nos que a tradução deve ser pensada como um ato sob transferência: Freud traduziu Charcot; Lacan traduziu (fragmenta ria mente) Freud; Pound, Eliot e Mallarmé traduziram seus poetas preferidos é a tradução como a melhor maneira de ler.
Detalhando um pouco esta operação de leitura: constituiu-se um cartel que visava discorrer sobre Um Retrato do Artista Quando Jovem. Como se sabe, o cartel é uma estrutura que direciona a uma produção escrita o que, por sua vez, obriga a uma difusão: escrever e dar a ler são momentos implicados reciprocamente. O percurso do cartel levou à leitura dos comentaristas de Joyce, citados (alguns) por Lacan.
Abrimos a publicação com o texto original (1904) da primeira versão do Retrato lado a lado com sua tradução feita por Bernardina Pinheiro, especialmente para esta ocasião.
Segue-se a nota biográfica de Joyce organizada por Jacques Aubert que tem seu nome intimamente ligado a esta publicação. Organizador e tradutor de uma parte da obra de Joyce para a edição da Pleiade, J. Aubert teve um papel decisivo na transmissão de Joyce e no ensino de Lacan. Quando convida Lacan para abrir o simpósio de Joyce em 1975 já sabia da leitura e das citações de Lacan sobre Joyce, mas desconhecia que este encontro iria produzir uma virada fundamental tanto na apreciação da literatura quanto na escritura da psicanálise. Hoje podemos dizer que há outra psicanálise lacaniana depois de Joyce: aquela que escreve o sinthoma (esta nova grafia é uma retomada do helenismo do Francês antigo, procedimento tão caro a Joyce) como suplência à carência constitutiva do sujeito na linguagem; carência essa que função paterna nenhuma jamais virá a suturar.
Do prólogo da edição da Pleiade, traduzimos a parte consagrada ao comentário do Retrato. Em edição recente Folio (1992) J. Aubert produziu um novo prólogo onde aborda pormenorizadamente fontes e referências do Serroto, salientando a nova direção que Joyce imprime àquilo que tornou possível sua escrita singular, que também consta desta publicação.
No caminho de constituir um aparelho crítico de leitura, fomos particularmente instigados por uma frase de Lacan no seminário Le Sinthome, que transcrevemos a continuação: “Teria desejado que vocês dispusessem da edição organizada por Chester Andersonpara a VikingPress que comporta um ‘criticism’, quer dizer, a coletânea de alguns artigos sobre Joyce que algumas pessoas pariram, todos universitários – é aliás uma maneira de entrar na universidade pois a universidade deglute os joycianos e lhes dá graduações. Neste momento, esta edição à impossível de conseguir.” Devemos dizer que esta impossibilidade nos causou e nos colocou na busca desta edição crítica publicada pela primeira vez em 1968. Encontrada, escolhemos os trabalhos de Maurice Beebe, Frank O’Connor, Richard Ellman, Harry Levin, Hugh Kennere Irene Hendry Chayes.
Este último abre a segunda parte da publicação, dedicada às epifanias. Estas constituem um ponto nodal da obra de Joyce na medida em que são o ponto de máxima aproximação com a escritura do real. Diz Lacan: “As epifanias são sempre ligadas ao real. O próprio Joyce não fala delas de outra maneira. É totalmente legível que a epifania é o que faz com que graças à carência o inconsciente e o real se amarrem”.
Nesta seção escolhemos da obra de Héléne Cixous, L ‘Exil de Joyce (1968), dois capítulos do “Aproche du réel”. Em um deles a autora situa a mutação do artista ante o conceito de epifania: percurso que vai da Claritas da estética aquiniana como revelação da quididade do objeto a um extremo oposto onde é o sujeito que se revela.
Encerramos esta parte com a precisão do texto de Catherine Millot onde se aponta…