Sumário
PARTE I – O autismo
— As diversas abordagens
– O autismo segundo Leo Kanner
Arlete Garcia
– O mundo do encontro: Bruno Bettelheim. Considerações acerca do autismo infantil
José Carlos de Souza Lima
– Autismo: uma fase inevitável em Margaret Mahler
Ana Lúcia Zacharias
– Autismo, uma síndrome patológica particular: Donald Meltzer
Cora R. S. Vieira
– O autismo segundo Serge Lebovici
Beatriz Elisa Ferro Siqueira
– O buraco negro – Frances Tustin
Myriam R. Fernández
— Frances Tustin: escrito, carta, entrevista
– A perpetuação de um erro
Frances Tustin
– Carta a Claude Allione
Frances Tustin
– Entrevista
Frances Tustin / Eduardo Vidal
— Com Freud e Lacan: a estrutura
– O sujeito “inconstituído” em Lacan
Benita Losada Albuquerque Lopes
– O que o autista nos ensina: considerações sobre a alienação
Eduardo Vidal
María Cristina Vecino Vidal
– O autismo na estrutura: Rosine e Robert Lefort
Nilza Ericson
– Carta a Rosine e Robert Lefort
Eduardo Vidal
Nilza Ericson
– Resposta de Rosine e Robert Lefort
— Vinhetas clínicas
– Questões acerca do autismo
Elisa C. de Oliveira
– Autismo e psicose
Vera Vinheiro
– Do “escape”… ao “monstro”
Tânia Dias Mendes
– O autismo e sua saída: o “pai demorado”
Maria Lúcia de Castro Alves
— Um caso clínico
– Fabian, a criança do computador – fragmentos da cura analítica de uma criança autista de 4 anos
Héctor Yankelevich
PARTE II – Clínica do autismo: desejo e aposta
— De Freud a Lacan – “um pouco” de estrutura
– O autista e o psicótico na estrutura de linguagem
Arlete Garcia
Lícia Magno Lopes Pereira
Rossely S. M. Peres
Silvia Disitzer
Vera Vinheiro
– Das Ding, o autismo e a constituição do sujeito desde Freud
Anna Beatriz Medici
– Do signo ao significante
Benita Losada Albuquerque Lopes
– Onde localizar o autista na “condenação significante”?
Cacilda Vieira Bruni
Licia Magno Lopes Pereira
– Quando a língua materna é estrangeira
Inês Catão
– Autismo – uma direção do tratamento possível com a psicanálise
Heloisa Godoy
— Autismo – direção da cura
– Silêncios
M. Lucía Silveyra
– Seres verbosos. Sobre os efeitos do tratamento analítico do autismo
Elisa C. de Oliveira
– Sobre a clínica – um descongelamento
Ilana K. Valente
Vera Vinheiro
– Autismo: corpo e linguagem
Maria Luiza Zanotelli
– A escuta do psicanalista na clínica do autismo: algumas reflexões
Bianca Freitas
Jane Bravo Gorne
– Da incorporação da linguagem à escrita
Ana Serra
– Como água viva: lalangue e voz na clínica do autismo
Regina Macêna
“Igor… Cadê o Igor?”
Silvia de Lima
— Diálogos com a medicina e outros saberes
– Autismo, psicanálise, neurociências
José Carlos de Souza Lima
Rochelle Gabbay de Souza Lima
Silvia Disitzer
– O que o Asperger ensina sobre a insondável decisão do ser
Sandra Dias
– O que se inscreve da psicanálise na medicina? …Ou ainda, o que daí (d’isso, dessa interdiscursividade) ressoa? Desejo e aposta
Maria Tereza Martins Ramos Lamberte
– Diálogos entre escola e equipe de saúde: exemplos bem-sucedidos de ações integradas na sala de aula para adolescentes aspergers e autistas que frequentam escolas regulares
Fernando Machado Rodrigues
– Mulher-mãe-professora: ensinando, aprendendo e (con)vivendo com os comportamentos do Transtorno do Espectro do Autismo
Fabiana Ferreira do Nascimento
Mara Monteiro da Cruz
– Inclusão e mediação escolar
Nira Kaufman
Sheina Tabak
Julia Mafra
– O debate contemporâneo acerca do autismo no Brasil
Bruno Diniz Castro de Oliveira
— Política do autismo
– Política do autismo
Eduardo Vidal
María Cristina Vecino Vidal
– A criança autista e a introdução da letra de Lacan na psicanálise em castelhano
Eduardo Vidal
Apresentação
, escreve, pela primeira vez, um texto coletivo, “O autismo”. Elaborado a partir das investigações do seminário de psicanálise com crianças, foi apresentado no 5º Encontro Internacional do Campo Freudiano, em 1988, na Argentina.
Num segundo tempo, em 1995, a Escola lança a revista O autismo, ocasião em que trabalhou diversos autores e abordagens psicanalíticas sobre o tema. Freud, em 1911, utilizara a expressão “satisfazer autisticamente”, referindo-se ao sistema psíquico “fechado em um” (eingeschlossene), ao assinalar a importância do tempo da fundação e da constituição do sujeito. Chamara a atenção – isto não deve ser esquecido – para os processos psicológicos da primeira infância na investigação da libido narcísica. Em 1930, Melanie Klein dera início ao tratamento psicanalítico de um autista, o famoso caso Dick, no qual o olhar e a escuta do analista recaíram sobre a singularidade do paciente. Em 1943, Kanner descreve uma síndrome cujas características não haviam sido, ainda, relacionadas, nomeando-a autismo precoce infantil.
O autismo interessa sempre ao analista porque traz o enigma que, com função de um meio-dizer, o interpela na sustentação do saber em função de verdade. Certamente, não é apenas pelo enigma que a psicanálise se norteia em busca de respostas. Trata-se de pensar a clínica, que orienta a formação do analista, nos pontos em que faz ressaltar tanto o real em cena, que Freud
já assinalara, como o desejo em causa. É pelo dispositivo analítico que os operadores desejo e discurso do analista comparecem, possibilitando abordar o gozo fechado, congelado, autístico.
Em 2015, num terceiro tempo, a Escola organiza a jornada “Clínica do autismo: desejo e aposta” para comemorar os 20 anos de lançamento da revista, priorizando a direção da cura e reconhecendo a necessária interlocução não apenas com diferentes abordagens psicanalíticas, mas com outros campos de saber. Freud, em “O interesse na psicanálise”, formula a extensão da “nova ciência” como um “roçar outros diferentes domínios de saber” – o que não se confunde com a aplicação de um saber constituído sobre outro já existente, tampouco com uma integração complementar de saberes. Escutar é o primeiro passo para o diálogo.
Agora, em 2017, é momento de publicar. Número 50 na série das revistas da Escola Letra Freudiana, Autismo reúne a primeira edição – já esgotada – de O autismo com os trabalhos apresentados na jornada de 2015 e alguns outros. O título, escrito na capa sem intervalos entre as letras, como um bloco, algo monolítico, traz a noção do congelado, o “em si mesmo” autístico. A capa é inspirada no desenho de uma criança autista trabalhado pelo artista plástico Deco Dias Soares, com linhas levemente tracejadas, mais marcas do que traços, que não chegam a fazer dessa escrita uma inscrição. Linhas que se cruzam, se tocam, mas não contornam o ponto cheio, opaco, e se dirigem ao infinito indicando uma ausência de borda e, embaixo, mais uma marquinha… tímida tentativa de fazer uma série.
Ante a decisão de reeditar a revista O autismo, os autores dos artigos foram convocados a rever, reler, repensar seus textos. Deu-se então o singular encontro entre autor-leitor e escrito, após 20 anos. Texto e leitor fazem um laço necessário, um não existe sem o outro. O escrito precisa do leitor para manter-se vivo, e o leitor-autor precisa do texto para manter-se ativo, interessado e implicado no porvir. Nessa revisão, releitura, repetição, encontramos o diferente – alguns autores-leitores mantiveram o texto como tal, outros o repensaram e modificaram e uns poucos fizeram até uma reescrita. A repetição
não é do mesmo, traz um novo olhar, o diferente. É a mesma revista? É e não é. Está aguardando leitores para confirmar sua presença, sua marca.
A controvérsia que nos assola a respeito da etiologia do autismo leva a precisar e sustentar o que é próprio da psicanálise: escutar o sujeito em seu sofrimento. O analista, munido de um saber fazer, com sua escuta e com a ética própria do discurso do analista… opera.
P.S.
R.S.M.P.
V.V