Sumário
Parte I – Neurose Infantil: A Estrutura
Neurose infantil: Uma construção freudiana
Maria Cristina Vecino Vidal
Neurose infantil, trauma e traço
Vera Vinheiro
Constituição do campo do objeto
Sofia Sarué
A incidência da castração na neurose infantil
Arlete Garcia Lopes
O gozo do sintoma – Um percurso em Freud
Joseléa Galvão Ornellas
Parte II – Presentificação da neurose em Criança e Adolescente
“O vingador”: Uma construção em análise
Arlete Garcia Lopes
Sofia Sarué
O tempo lógico na psicanálise com crianças
Claudia Mayrink
Leticia Nobre
Nada tem nome – Inibição e sintoma
Arlete Garcia Lopes
O deslizar dos sintomas numa análise
Vera Vinheiro
Um nó de mal-estar e sofrimento mais satisfatório que…
Sofia Sarué
Além da neurose de transferência: obstáculos na análise com crianças
Isabel Goldenberg
Tradução: Paloma Vidal
Parte III – De um Tratamento Possível
Perguntas ao Pai
M. Lucia Silveyra
Tradução: Paloma Vidal
Ali onde acreditou encontrar as índias
Maria Ester Jozami
Tradução: Paloma Vidal
Algumas considerações sobre o pai na clínica
Leila Neme
In the name of the father
Elza Maria Soares Gouvêa
Quem pega, pega alguma coisa de alguém
Licia Magno Lopes Pereira
O nome do pai é o maior
Cristiane Laquintinie dos Santos Amaral
Do engodo à verdade – Uma escolha possível
Joseléa Galvão Ornellas
Eu não perdi nada
Zulmira Barreto de Moraes
Parte IV – Cem anos de Winnicott – Uma contribuição à psicanálise
Carta de Winnicott a Jacques Lacan
Tradução: Analúcia Teixeira Ribeiro
Uma pontuação sobre a resposta de Lacan a Winnicott
Analúcia Teixeira Ribeiro
Uma homenagem a Winnicott
Cora Vieira
Se a vida fosse sonho…
Alicia Hartmann
Tradução: Paloma Vidal
Winnicott: not less than everything
Silvia Inês Fendrik
Tradução: Paloma Vidal
De um invenção de objeto
Eduardo A Vidal
Apresentação
A prática de psicanálise com crianças se origina do discurso, o analítico, e não da observação de um cotidiano. A neurose infantil é o resultado de um trabalho de construção acontecido em análise. Deve ser nitidamente diferenciada da história da doença e dos sintomas que se produzem na infância de um sujeito. Em sentido estrito, a neurose infantil não remete a uma história, mas é estrutura. Apesar da ênfase dada por Freud a datação das cenas do “Homem dos Lobos”, elas só podem vir a constituir a neurose infantil no tempo de retroação da análise, quando a palavra do sujeito se determina na dimensão do Outro da transferência. Talvez seja esse o alcance do trauma como presentificação, em análise, do desejo do Outro. Esse desejo se apresenta numa trama complexa que denominamos Édipo e se define com a interdição do incesto cujo correlato é a castração. Essa interdição é estrutural, pois, é no simbólico que ela se sustenta, isto é, no buraco que o Nome do Pai introduz na sua função de nominação. Não se trata do nome das coisas mas do ato de marcar o real, de furá-lo mais do que representá-lo. O objeto a, é do corte da linguagem que Lacan o extrai. Nada de história nem de gênese no que tange o objeto a, que aí se diferencia da noção de objeto parcial, portadora do lastro da psicologia do desenvolvimento. É do estatuto do objeto a, na sua dimensão de real, que a clínica psicanalítica se orienta.
Dedicamos a última secção da publicação a refletir sobre o mérito do objeto transicional criado por Winnicott (1896-1971) que funda um novo topos e um novo espaço analítico. Winnicott é um analista ímpar no marco da escola inglesa – entre Melanie Klein e Anna Freud – ao usar este espaço com uma invenção que não se dobra ao constrangimento da técnica. Esta publicação presta uma homenagem a essa invenção.
Esta revista inclui ainda a elaboração de psicanalistas que vêm dar testemunho de sua prática. Em torno do eixo do Nome do Pai é interrogado o lugar de um sujeito na constelação familiar: que sou eu no desejo do Outro? É ponto de partida da construção de sua posição de ser sexuado segundo as leis do inconsciente, onde poderá advir o sujeito desejante. O percurso de uma análise comporta uma tensão temporal marcada pela pulsação de corte, escansão, relançamento que introduz uma dimensão outra na clínica com criança e adolescente, onde o real do tempo se marca indefectivelmente.
M.C.V.
R.S.M.P.