Sumário
Parte I – Do Pequeno Hans a Herbert Graf
Nachschrift zur analyse des kleinen Hans
Sigmund Freud
Pós-escrito à análise do pequeno Hans (1922)
Sigmund Freud
Tradução: Eduardo Vidal
Do pequeno Hans a Herbert Graf
Juan Carlos Cosentino
Tradução: Paloma Vidal
Memórias de um homem invisível – Herbert Graf relembra meio século de teatro: um diálogo com Francis Rizzo
Tradução: Paloma Vidal
Saber e gozo: sonhos de Hans
Cora Vieira
Hans e a fantasia da banheira
Sofia Sarué
A coragem da fobia
Annie Tardits
Tradução: Analucia Teixeira Ribeiro
“Quem perde, ganha”: falo e identificação na fobia de Hans
Silvia G Myssior
Parte II – A Lógica da Fobia
A lógica da fobia
Maria Cristina Vecino Vidal
Fobia: uma de-cisão entre saber e verdade?
Leticia Nobre
O que escreve a fobia?
Arlete Garcia
Fobia e autismo: tempos de espera na constituição do sujeito
Teresa da Costa
Vera Vinheiro
O horror na fobia
Cecilia A M de Amorim
A manifestação do real na fobia
Alicia Lowenstein
Tradução: Paloma Vidal
Parte III – Fobia: Uma Terceira Neurose?
Fobia: nos limites do saber
Juan Carlos Cosentino
Tradução: Paloma Vidal
Fobia: um tempo para compreender
Cacilda Vieira Bruni
Milvia Barbosa
Sergio Luiz Silveira Gondim
O estatuto da fobia
Licia Magno Lopes Pereira
A casa de guarda
Joseléa Galvão Ornellas
Passagem de século – situando a fobia em Freud
Lucia Lobianco
Tânia Mendes
Parte IV – Angústia, Medo, Síndrome do Pânico
A fobia: uma encruzilhada
Diana Lidia Mariscal
Angústia e fobia: pontuações sobre a síndrome do pânico
Bruno Netto dos Reys
Medo e Fobia
Leila Neme
Reflexões sobre o objeto no medo e na fobia
Dalmara Marques Abla
Parte V – Clínica da Fobia
Perversão sexual transitória no decorrer de um tratamento analítico
Ruth Lebovici
Tradução: Analucia Teixeia Ribeiro
Um caso de fobia de galinhas
Helene Deutsch
Tradução: Paloma Vidal
Estados de angústia – Angústia difusa – um caso de fobia de gato
Helene Deutsch
Tradução: Paloma Vidal
Agoarfobia
Helene Deutsch
Tradução: Paloma Vidal
Clínica da fobia
Eduardo Vidal
Considerações sobre a fobia e a direção da cura no caso Hans e no caso Yves
Eilsa Teixeira
Angústia e fobia
Ana Lucia de Souza
Fobia, corpo e objeto
Marcia Jezler Francisco
Parte VI – Objeto e Fobia
A função da fobia
Isabela B Bueno do Prado
Corporeidade e tempo
Sergio Becker
Algumas considerações sobre as estratégias: a posição do objeto na fobia e na melancolia
Karla Patrícia Holanda Martins
Drogadição – em busca da neurose
Eduardo A Vidal
Paulo Becker
Parte VII – Vinhetas Clínicas
Caráter e toteismo
M Lucía Silveyra
Tradução: Paloma Vidal
Mapa do tesouro
Elisabeth Freitas
Fobia, um medo – distância a transpor
Rita Coelho Martins
Uma viagem em direção à castração
Glória Maria Xavier de Almeida Góes
Uma menininha em apuros
Solange Estellita Lins Rebuzzi
O outro devorador – dificuldades na instauração da transferência
Vera Roque
Apresentação
Esta publicação recolhe o trabalho da Escola no seu retorno ao instigante caso da psicanálise – o pequeno Hans – e à questão da fobia. “De Hans à Herbert Graf’ marca o trajeto de um sujeito cujos dois nomes o tornaram famoso neste século: Hans enquanto caso princeps da psicanálise com crianças, e Herbert Graf como primeiro diretor de cena de ópera. Num ponto estes dois nomes convergem, por terem sido eles que inventaram um novo saber. Pois, para H. Graf sua profissão foi construída, “ela não existia, não tinha escola, nem indicações para seu estudo, teve que reinventá-la.” Da mesma forma, nosso pequeno Hans constrói, inventa um outro saber através da análise com Freud, por intermédio de seu pai, na tentativa de decifrar a origem de seus sintomas fóbicos.
Uma entrevista com Herbert Graf realizada em 1972, um ano antes de sua morte, em homenagem aos cinquenta anos de carreira profissional – traduzida nesta publicação – serve de reflexão para os analistas, no a posteriori à cura de 1906. Na sua leitura, uma figura se destaca, a de seu pai Max Graf “homem extraordinário, o mais extraordinário que tinha conhecido.” Ele foi musicólogo e crítico mas, antes de mais nada um homem erudito, que pertencia ao círculo progressista da Viena de início de século. Rodeado de pessoas notáveis, como Gustav Mahler, Oskar Kokoschka, Richard Strauss, não deixaria de aproximar-se de Freud, tornar-se seu discípulo e defensor fervoroso de suas ideias. Não demoraria também em consultá-lo por causa de seu filho, na época com três anos, que padecia um medo inexplicável aos cavalos, transformando-se logo no seu ‘analista’ sob a direção de Freud. O pai iniciou Herbert não só no caminho da música e da ópera, mas também da investigação de processos anímicos inconscientes o que deixou profundas marcas no filho.
Da cura com Freud, temos o seu próprio testemunho. Aos 19 anos, “num estado altamente emotivo, visitei o grande doutor no seu consultório de Bergasse e me apresentei como ‘o pequeno Hans’. Atrás de sua mesa, Freud parecia um desses bustos de filósofos gregos que eu havia visto na escola. Ele se levantou e me abraçou afetuosamente, dizendo que ele não podia esperar uma melhor indicação de suas teorias do que o jovem de dezenove anos feliz e saudável que eu me tornara”.
Deste encontro, há uma referência no pós-escrito ao caso do pequeno Hans, traduzido do alemão para esta revista. Neste texto, Freud não só apresenta um jovem de dezenove anos curado de sua fobia, mas também destaca a surpresa do analista frente a constatação da ausência de lembrança do trabalho realizado. Pois, como todo o saber da infância, ele caiu no domínio de uma amnésia radical.
O pequeno Hans, enquanto primeira criança da psicanálise, constitui para os analistas uma referência essencial pela observação e a escrita do material significante produzido no encontro com a sexualidade e a castração. A especificidade do tratamento de uma criança interroga, de novo, a prática da psicanálise sobre questões que foram tradicionalmente consideradas como técnicas: intervenção com a criança, entrevista com os pais, duração e término do tratamento, mas que dizem da decisão do analista sobre seu ato. Também é a primeira formulação clínica sobre a fobia.
As fobias infantis são consideradas quase como normais: “em minha confessada parcialidade em favor do pequeno Hans faço valer que não é o único menino afligido de fobias em algum momento de sua infância… Tais meninos tornam-se neuróticos ou permanecem sãos… Depois cedem, no curso de meses ou de anos, curam-se em aparência.” (S.Freud)
Esta publicação estabelece a fobia como lógica, uma encruzilhada que revela o desencontro do saber e do objeto, destacando a temporalidade própria à intrusão do sexual no campo subjetivo. A fobia surge num tempo lógico da constituição do sujeito como é a emergência da chamada curiosidade infantil. De um mundo fechado, dual. que é a relação da criança com a mãe, há um espaço sem borda onde a experiência da angústia invade, como real, no imaginário do corpo e coloca o sujeito em suspensão frente ao desejo do Outro. Trata-se de um momento de evanescência do sujeito.
Freud, no percurso de sua teorização, foi destacando, na histeria, a peculiaridade do sintoma fóbico constituído a partir do deslocamento significante; a fobia será denominada de histeria de angústia diferenciando o campo da histeria pela resposta que o sujeito deve dar à angústia . Frente a angústia avassaladora, o sentido da fobia seria introduzir no mundo da criança uma estrutura, um limite, uma nova ordem do interior e do exterior.
A partir da psicanálise com crianças…