Sumário
O complexo, sua função
– Em torno do complexo de Édipo
Benita Losada A. Lopes
– O Édipo, do complexo ao mito
Annie Tardits (tradução: Analucia Teixeira Ribeiro)
– Complexo de irmãos
M. Lucía Silveyra (tradução: Paloma Vidal)
– Édipo e infância
Leila Neme
– Vazio, angústia e desejo
Claudio Kayat Bedran
– Algumas considerações sobre o complexo de castração e o complexo de Édipo
Daniela Goulart Pestana
– Nota sobre o período de latência
Mauricio de Andrade Lessa
– O Édipo no tempo do adolescer
Arlete Garcia
– Decepção edípica e transtornos no tipo de escolha de objeto na adolescência
Sofia Sarué
Do mito à estrutura
– Tirésias, sob um outro olhar à Observações sobre
Édipo e Antígona a partir de Hölderlin
Solange Rebuzzi
– Ainda o Édipo
Maria Alice de Meireles Rabelo
– De Édipo Rei a Édipo em Colono
Glória Castilho
– O incesto e seus paradoxos
Elisabeth Leypold (tradução: Analucia Teixeira Ribeiro)
– Encruzilhada inevitável
Isabela Bueno Prado
– De “O romance…” ao “Bate-se…”: Uma passagem freudiana
Letícia Nobre
– Édipo: do mito à lógica
Ana Lucia de Souza
Édipo, um outro enodamento
– Complexo de Édipo, função de nó
Maria Cristina Vecino Vidal
– Cisão do sujeito e castração
Eduardo Vidal
– Juan Carlos Cosentino
Nélida Halfon
– Um símbolo tenaz na psicanálise, o falo
Marjolaine Hatzfeld (tradução: Analucia Teixeira Ribeiro)
– O que escreve a lógica da castração
Marcia Jezler Francisco
– O herdeiro do nó
Vera Vinheiro
– Notas sobre o ideal
Eduardo Vidal
– O gozo materno, uma forma oculta do abandono
Solal Rabinovitch (tradução: Analucia Teixeira Ribeiro)
Édipo, um vetor da análise
– Neurose infantil x Neurose da infância… somente?
Andréa Bastos Tigre
Benita Losada A. Lopes
– O que quer uma criança
Licia Magno Lopes Pereira
– Efeitos sintomáticos da castração
Iara Barros
– Configuração nodal
Cristiane Laquintinie Amaral
– Um passo para Eveline
Elisa C. de Oliveira
– Todas as panelas têm cabo?
Regina Fleiuss
– Um sintoma de “anorexia” em uma criançaa
Silvia Grebler Myssior
Apresentação
Os escritos que compõem esta publicação nos convocam a uma reflexão sobre um tema central e insistente da psicanálise: o complexo de Édipo. Ao fundar o inconsciente a partir da escuta do discurso das histéricas, Freud descobre, tanto na análise de seus sintomas quanto em sua própria análise, a encruzilhada edipiana, que se constituirá como o complexo nuclear da neurose.
De início, Freud debruça-se em busca do complexo que denomina patogênico, articulado a um trauma de caráter sexual em um momento preciso da história do sujeito. Faz, contudo, um longo percurso até extrair, de sua experiência, a conclusão de que os sintomas neuróticos não se enodam de maneira direta a vivências efetivamente reais, mas sim a fantasias de desejo, discernindo, com isso, que para a neurose mais vale a realidade psíquica do que a material. A “topada” com o complexo de Édipo produz uma torção no seu trajeto teórico que o leva à constatação de que o traumático é inerente ao encontro com a sexualidade no tempo da infância. Esta virada exige do complexo de Édipo ordenar, sob a primazia do falo, o campo pulsional.
Os textos que fazem parte deste número seguem a trilha da letra de Freud e de Lacan, interrogando a função do que se denominou complexo na psicanálise e na constituição do sujeito, assim como os desdobramentos do complexo de Édipo, do complexo de castração e dos complexos familiares. Freud nos diz que é preciso ser “extremamente prudente” com os complexos. Apesar de ser um conceito “indispensável”, é também “verdadeiramente vago e inadequado”. Nesta linha de trabalho, decantam-se os escritos da primeira seção O complexo, sua função.
A segunda seção, Do mito à estrutura, parte da tragédia escrita por Sófocles da qual Freud extrai o mais íntimo do desejo e do drama humano. Fisgado pelo poder cativante de Édipo Rei, Freud constrói o elo entre a mitologia e a psicanálise. Suas formulações avançam da consistência do mito à estrutura do sujeito, enlaçando a operação do recalque – como efeito da passagem pela crise edipiana – ao inconsciente. As operações psíquicas que se produzem em torno da problemática edipiana e da constituição dos ideais deixam um resto que constitui o infantil, marca registrada do sujeito.
Os textos que integram a terceira seção, Édipo, um outro enodamento, traçam um vetor de Freud a Lacan, revelando a lógica e a nodalidade inerentes ao discurso freudiano. A teoria de Lacan, ao reelaborar o Édipo freudiano, marca escansões que vão desde “Os complexos familiares” até o encontro com a topologia e o nó borromeano. Com a primazia do falo, o dito infantil se enoda em torno do verdadeiro buraco que a psicanálise denomina de castração. Lacan insiste na escrita pela via da lógica e da topologia, esvaziando a consistência do Édipo, porém instaurando sua radicalidade.
Na seção final, Édipo, um vetor da análise, destaca-se o cerne dessa discussão, pois é no particular de cada experiência que se escreve os efeitos dessa travessia essencial. Lacan propõe ao analista não cair na armadilha de encobrir, com a significação do Édipo, o campo da experiência. Que essa publicação possa relançar novas questões a partir da instigante frase de Lacan que “o complexo de Édipo – não é tão complexo assim”.
I.B.P.
M.C.V.V.