Sumário
— Do Real… —
O Real, será que isso funciona?
François Balmès
Tradução: Analucia Teixeira Ribeiro
Um dispositivo em que o real alcance o real
Eduardo Vidal
O Real do cartel
Ana Lucia de Souza
A indicação de um passador: qual é o nó da questão
Ana Maria Portugal
Se o Outro existisse
Ana Lucia Zacharias
— Freud, indícios do Real —
Psychische Realität ou psychische Wirklichkeit?
Patricia Sá
Sobre três termos freudianos
Benita Losada A. Lopes
Constituição do sujeito em Freud: tempo e escrita
Myriam R. Fernández
Do não-reconhecido (unerkannt) ao saber inconsciente
Elza Gouvêa
O que se lá… o que se escreve
Maria Célia Andrade Oliveira
“Inibição, sintoma e angústia”: enodamento freudiano
Maria Cristina Ferraz Coelho
— A escrita nodal —
Contribuições sobre a escrita em psicanálise: a escrita nodal
Carlos Ruiz
Tradução: Paloma Vidal
Falso buraco – uma questão de trucagem?
Fatima Vahia
Do símbolo à escrita sinthoma
Arlete Garcia
A topologia dos nós e o laço com o que é da experiência analítica
Sofia Sarué
O nó borromeano, escrita do sinthoma
Heloisa Godoy
Pontuações sobre o nó na paranoia e em Joyce
André Schaustz
O letrista e o nó
Sergio Becker
A experiência psicanalítica e o nó: um mandamento freudiano
Claudia de Moraes Rego
“Você sabe, você pensa, você é”
Nilza Ericson
— Interseções —
Psicanálise no mundo?
Marcia Jezler e Renata Salgado
Ideal, ‘oa-bjeto’, Real
Eduardo Vidal e Paulo Becker
A escrita do crime: o memorial de Pierre Riviére
Lia Amorim
Exquisite pain: a escrita e a arte de Sophie Calle
Beatriz Elisa Ferro Siqueira
Paul Celan: a poética do cicatricement
José Eduardo Marques de Barros
A escrita sobre o corpo e o gozo no texto de Clarice Lispector
Denise Rocha Stefan
Turbilhão-dispersão escreve o nó
Elisabeth Freitas
Nota sobre a emergência do Real na Educação
Elisa Teixeira
A escrita do Real
Ricardo Kubrusly
— Escreve-se… —
A quem pertence uma carta?
Andréa Bastos Tigre e Rossely S. Matheus Peres
Uma outra escrita
Francisco José Bezerra Santos
Uma escrita de letra
Alicia Liliana Sterlino
Fantasma, ruptura do semblant, letra: o que a clínica ensina
Miriam Passos Lima
O que se escreve como solidão?
Rita Martins
Das agruras de escrever um caso clínico
Clara de Góes
Apresentação
Ao longo dos anos de 2006 e 2007, a Escola Letra Freudiana dedicou-se a trabalhar O nó da psicanálise e O que se escreve do Real? Como consequência desse tempo de trabalho chegou-se ao giro necessário da frase que nomeia esta publicação: Do Real, o que se escreve? Afirma-se com isso a importância de não dar substância ao real, reconhecendo que é o real que comanda a experiência analítica. A interrogação se manteve, lançando-nos em busca de novos textos que contribuíssem para o projeto desta publicação. Cada texto, a seu modo, se esforça por dar um contorno a esse conceito paradoxal, de difícil apreensão, presente no ensino de Lacan desde 1953: o real que retorna sempre ao mesmo lugar; o real impossível, o real que não cessa de não se escrever. Do Real, arranca-se um pedaço.
Partimos Do Real… , real que atravessa o caminho mas que também é direção. Lacan nos diz em 1977 que “a clínica é o real enquanto impossível de suportar”. Cabe ao analista sustentar um discurso marcado pelo impossível. E o compromisso da Escola é produzir um dizer disso.
Na leitura do texto freudiano, Lacan mostra que há um real em jogo ainda à espera de formalização. Se Freud não tinha ideia do Simbólico, do Imaginário e do Real ele tinha, no entanto, uma suspeita, quando concluiu que o fracasso inerente ao complexo de Édipo decorre de sua impossibilidade interna (seiner inneren Unmöglichkeit). Tal suspeita funcionou como um trilhamento conduzindo Lacan a elaborar os três registros e a distinguir na experiência analítica não somente a realidade psíquica mas seu núcleo real.
Se Freud não nomeou sua prática de discurso analítico introduziu, sem dúvida, um novo discurso, inaugurou um novo laço fundado na impossibilidade do sexual – a castração. Não é difícil encontrar em seu texto enodamentos, como o das três instâncias e o de inibicão, sintoma e angústia, embora não constituam o nó que Lacan propõe.
Lacan chega ao nó borromeano depois de uma longa experiência como analista, tendo esgotado a esperança do sentido, sabendo que o real é refratário a qualquer sentido. O nó borromeano em seu ensino não funciona como um modelo; opera como uma escrita na tentativa de abordar o real pelo real. Com o nó, Lacan dá um suporte de letras à experiência analítica rompendo com o tempo e o espaço euclidianos.
A escrita não resulta propriamente da transcrição dos ditos do analisante, provém do que ex-siste ao dito, do real como impossível, justamente porque a linguagem não chega a inscrever a relação sexual. Extrair as consequências desse dizer de Lacan é a proposta desta publicação.
I.P.B.
L.B.
P.S.