Sumário
Parte I
Sobre o Trágico
Poética (fragmentos)
Aristóteles
Maldição e bem-dizer
Eduardo A. Vidal
A morte de Antígona, ou Do gozo trágico
Héctor Yankelevich
Parte II
Interlocuções
Psicanálise e ética
R. E. Money-Kyrle
De Money-Kyrle a Lacan
Elizabeth Olinto Costa
A ética da psicanálise segundo Thomas Szasz
Rogerio Mäder
Anna Freud…
Benita Losada A. Lopes
Pontuações sobre a psicologia do ego
Ana Lúcia Paiva
Intervenção de J. B. Pontalis sobre o Entwurf de Freud
Parte III
Das Jornadas
O saber do analista e seu caminho ético
Paulo Becker
Leny Andrade
Rogerio Mäder
A transmissão de um estilo
Eduardo Vidal
Maria Cristina Vidal
Nilza Ericson
Dispositivo do cartel: do mal-estar à produção
Diana L. Mariscal
Pontuações sobre o Seminário da ética
Rossely S. M. Peres
Ética e etiqueta
Ari Roitman
A ética de Freud
Paulo Becker
Algumas articulações entre uma estética e uma ética psicanalíticas
Margarida Elia Assad
Da reflexão nos espelhos às fórmulas quânticas da sexuação: um imperativo ético
Renato R. P. de Carvalho
Em vez de ethos… ethos
Gilda Vaz Rodrigues
Discurso médico: em direção a uma nova ética
Lima Amorim
Apesar de… vivo
Maria Islai Lira de Gusmão
Do bem e do desejo
Miriam Chor Blanck
Ainda um passo
Maria Elisa Arreguy Maia
Questões sobre a crença: em que o paranóico acredita?
Letícia Balbi
A cena… um ponto de partida
Maria Luiza Barenne
“Eu não vou ceder!”
Myriam R. Fernández
Apresentação
A ética representa para a psicanálise a bússola do analista. Sem ela não há direção nem posicionamento. O analista deverá desprender-se de toda moral, de seus temores e de seus preconceitos. A ética da psicanálise impõe que o analista sustente um desejo. Neste sentido, próxima à tragédia, a psicanálise busca, no entanto, um outro fim que não o trágico.
A psicanálise encontrou na tragédia grega – em Sófocles principalmente – mais do que uma fonte de inspiração, a letra do desejo realizando-se como destino no herói.
Freud funda o inconsciente e inscreve o desejo na dimensão trágica. Édipo Rei dá o suporte para o estabelecimento do complexo que organiza o saber inconsciente. O recurso a Édipo sinaliza uma analogia estrutural entre o ato trágico e o ato analítico: há saber não sabido habitado por aquilo que causa o sujeito e o desejo.
O complexo de Édipo sofreu, contudo, uma extensão psicologizante cujo efeito é a ocultação do desejo radical por uma trama de relações intersubjetivas.
Admitia Lacan em 1960: “O Édipo, entretanto, não saberia manter indefinidamente seu cartaz em sociedades onde se perde cada vez mais o sentido da tragédia”. (Écrits, p. 813)
Interrogar Édipo, consequentemente Antígona, indica ao analista a via ética em que o desejo procura enunciar-se para além de toda demanda e de qualquer bem. A tragédia, ao encenar o herói decidido no seu ato, aponta o vetor do desejo sem pretender significá-lo. Sua persistência em causar o horror talvez deva ser localizada do lado da dessubjetivação que o “desejo puro” acarreta. Uma psicanálise, certamente, não visa o heroísmo. Porém é inevitável que no seu curso o sujeito se depare com o desejo que no limite suscite a questão de sua desaparição da cadeia significante, seu exílio de ser falante.
Mas se “sofrer o mínimo possível” é o que se espera de um analista, aposta-se na possibilidade de um posição outra que não a de nossos heróis.
Esta publicação está dividida em três blocos temáticos: primeiro, a Tragédia; em seguida, Interlocuções, dá espaço à escuta de diversas concepções teóricas oriundas do campo psicanalítico.
Os descaminhos e cruzamentos que estancaram a questão psicanalítica são matéria básica para Lacan que, pela retomada da ética freudiana, recoloca a psicanálise em seu curso.
A leitura e escuta desses autores são um constante na obra de Lacan, pois pertencem ao campo da psicanálise, comportando em si uma dimensão ética.
Por fim, Das Jornadas, reúne trabalhos de três Jornadas realizadas em anos diferentes na Escola Letra Freudiana, que têm agora a oportunidade de serem divulgados.