https://us02web.zoom.us/j/81119035832?pwd=Mi9FQ3lCeHgwK1Z6dzdKMGJQTm5Gdz09

 

“Vou lhes contar aqui algumas vidas. Apenas existências que passaram diante de meus olhos. Se você está aqui, é porque vamos passar algum tempo juntos, então saiba que sou um confesso bisbilhoteiro, um fofoqueiro dos mais terríveis. Acabo revelando tudo o que vejo sem dó ou enfeites e, no confortável papel de espectador, lhes digo: não sejam tão duros porque, com o passar dos segundos, minutos, dias, horas, semanas, meses e anos, grande parte dos dramas vão morar no reino do ridículo. Está aí: o futuro é a residência do sonho, da expectativa, das realizações e do ridículo. Que estranha família!

(…) Apenas me acompanhe. Existem mistérios para desvendar aqui. Convido a percorrer comigo estas linhas-caminhos”. [1]

“Depois de tirar toda aquela roupa dos caldeirões com o alvejante, Isabel, Umbelina e Dasdô, cantando sambas de rodas numa mistura mágica de português com nagô, ewe e outras línguas d’África, acomodaram tudo em balaios e se puseram na parte de trás do sobrado, a estender uma a uma as peças muito alvas no extenso varal e no gramado. Na varanda atrás da cozinha, Cecília pilava milho. Risos misturados com os cantos e com o cheiro de limpeza. O sol estava fervendo e a roupa secaria cheirosa, alva e brilhante…”. [2]

“O Valongo não era nada bem-visto. Ficava um tanto fora da cidade, e tinha uma costa com muitas enseadas e ilhotas repletas de trapiches e escritórios. A enorme Pedra do Sal nos separava do resto. Para chegar ao outro lado, eu tinha que dar uma volta enorme pelo morro da Conceição. Quase toda casa aqui era também um depósito de gente… gente para venda. As pessoas de bem fugiam desse lugar, mas para muitas eram esses negócios “sujos” que fingiam não ver que pagavam seu rapé, finos tecidos, aulas de música, livros raros e carruagens.

É possível sepultar para sempre passado tão tenebroso?”. [3]

 

[1] Nada digo de ti que em ti não veja.

 

[2] Água de barrela.

 

[3] O crime do cais do valongo.

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