[…] no caso dos seres humanos não achamos uma virilidade ou feminilidade puras no sentido psicológico nem no sentido biológico .
Freud. “Três ensaios de teoria sexual”

… o significante não é apropriado para dar corpo a uma fórmula que seja da relação (rapport) sexual. Daí minha enunciação: não há relação (rapport) sexual – subentenda-se: formulável na estrutura
Lacan. “Radiofonia”

 

Apesar de sua conhecida paráfrase do dito napoleônico “a anatomia é o destino”, Freud afirma que a psicanálise deveria se manter distante de explicações originadas na anatomia, na química ou na fisiologia. A anatomia, nessa perspectiva, não apreende o que caracterizaria a masculinidade ou a feminilidade. Ao enunciar que a libido é de natureza masculina, referência tanto para homens como mulheres – independente da escolha objetal – subverte o pensamento tradicional sobre o que é a diferença sexual. Se a famosa “inveja do pênis” pôde ser formulada, ela não deve ser lida sem a referência ao falo, o qual não é propriedade de nenhum ser falante sexuado. A sexualidade feminina foi deixada por Freud como uma questão em aberto.

Lacan, no início do seu ensino, já alertava que os significantes “homem” e “mulher” não equivaleriam a modelos de atividade/passividade. O homem, uma mulher, são apenas significantes e o significante não toca o que seria uma “essência” do sexo que ele adverte faltar. No inconsciente, o homem nada sabe da mulher e, se a função da linguagem opera, ela, por sua vez, não constitui um segundo sexo: teremos um sexo e Outro sexo.

Dando continuidade ao percurso iniciado em 2023, destacaremos o que é da escrita e prática de leitura, leitura que é “para além do que vocês incitam o sujeito a dizer” na experiência analítica. A leitura, assim como a escrita, orientam para uma prática na qual “a letra, radicalmente, é efeito de discurso”. Quais seriam os limites dessa escrita, já que “a relação sexual não pode se escrever”? Ao cifrar o gozo, tangenciando o que “não para de não se escrever”, o dizer – que é da ordem de um ato – passaria à escrita? “O sexo é um dizer” implicaria essa escrita?

Francisco José Bezerra Santos
Início: 5 de março.
Terças-feiras às 20h (semanal)
Fortaleza/CE

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