Sumário
Parte I – Filosofia e Antifilosofia
Lacan – A antifilosofia e o real como ato
Alain Badiou
Tradução: Analucia Teixeira Ribeiro
Onde estamos com a questão do sujeito?
Alain Badiou
Tradução: Analucia Teixeira Ribeiro
Parte II – O sujeito na filosofia
A questão do sujeito em Descartes
Raul Landim Filho
A questão do sujeito em Espinosa
Marcos André Gleizer
Breves consdierações sobre o conceito de sujeito em Wittgenstein
Luiz Carlos Pereira
Parte III – Psicanálise e Filosofia
Ou eu não penso, ou eu não sou
Marie-Claire Bonns-Grafé
Tradução: Analucia Teixeira Ribeiro
Observações sobre tempo e sujeito
Carlos Eduardo Estellita Lins
Sujeito e linguagem
Francisco Leonel F Fernandes
O sujeito do inconsciente, uma questão de linguagem?
Célio Garcia
Lacan e a subversão do sujeito
Nestor L. Lima Vaz
Alguma certeza
Paulo Becker
Cogito, sujeito da ciência e objeto da psicanálise
Eduardo A. Vidal
Apresentação
A Guisa de Apresentação
Maria da Penha Simões
Teresa da Costa*
Dando prosseguimento às atividades de psicanálise em extensão, a Escola Letra Freudiana promoveu em outubro de 1996 o Colóquio Psicanálise e Filosofia. Em torno da questão Sujeito e Linguagem, e de algumas de suas coordenadas tais como Ser, Ato, Certeza, Verdade, Real, nomes representativos posicionaram, lado a lado, formulações de ambos os campos de saber. O evento atraiu um público apreciável, participante de uma interlocução produtiva pelas diferenças e similitudes na abordagem dos problemas colocados, pelas divergências quanto a metas e tarefas. Algumas questões se aclararam, outras emergiram… Do Colóquio impôs-se a exigência de um prolongamento fora dos ponteiros do relógio. Esta publicação se propõe a fazer escritura como efeito dos discursos então sustentados.
Questão recorrente é a do sujeito a partir de Descartes, à qual constantemente retornamos por corresponder ao momento histórico da fundação do sujeito moderno. Pela via da dúvida metódica, Descartes chega à “possibilidade de um fundamento permanente da verdade”. Nessa trilha prossegue até provar também a existência dos corpos e chegar à questão sempre problemática da “união de corpo e mente”, como sustenta em seu escrito o professor Raul Landim.
Espinosa não concede ao Eu penso a “prioridade epistemológica e metódica” que lhe confere Descartes. Não vai da dúvida à certeza. Nem visa à formulação de um sistema epistemológico. O que pretende é a construção de uma ética. Embora alguns comentaristas declarem que Espinosa rompe com a noção de sujeito, em sua obra este se faz presente como capaz de referir-se a si e ter consciência de si. A ética traça o caminho laborioso e difícil para que o conhecimento imaginativo – ilusório, portanto – dá lugar ao conhecimento intuitivo. Este, longe de reduzir-se à experiência emocional, revela-se uma luminosa intuição cuja fonte está em Deus, conforme explicita em seu artigo o professor Marcos Gleizer.
Sujeito da experiência, sujeito da moral, é aquele que se configura no sistema filosófico de Kant, cuja intenção – a acreditarmos em certos autores – seria a de salvar a metafísica no interesse da vida moral e assim responder às questões: que posso eu saber? que devo fazer? o que se pode esperar? que lembramos, Lacan a partir do discurso analítico responde, em Televisão. Com base na razão pura, Kant constrói um espaço e uma temporalidade cujas estruturas se assentam no espírito humano, coordenador da experiência. Se pela razão pura ele não consegue demonstrara existência de Deus, esta se evidencia por meio da razão prática apoiada na conceituação da lei moral.
Wittgenstein, um dos representantes do pensamento do século XX no Colóquio, não mostra em sua obra “qualquer coisa que se assemelhe a uma teoria explicativa enquanto homem, corpo ou alma humana”, de acordo com a exposição do Luiz Carlos Pereira. Então o que seria o sujeito? “Puro representador do limite da linguagem, sujeito indizível situado na fronteira do mundo”.
Na abertura do Colóquio, Eduardo Vidal retomou alguns dos comentários de Wittgenstein sobre a obra de Freud, não sem deixar de assinalar a perplexidade do filósofo ante as formulações daquele médico vienense de sua mesma língua e de seu mesmo tempo. Wittgenstein compreende que haveria nas imagos oníricas alguma semelhança com os signos de uma linguagem e serve-se da metáfora da marca sobre o papel ou sobre a areia onde, ainda que não se reconheça signo convencional de um alfabeto, poderíamos ter a impressão de tratar-se de uma linguagem. Assim pairaria, para todos e para cada um, a ameaça de “um certo enfeitiçamento pela linguagem ao qual alguns sucumbem”.
Para Wittgenstein, interpretar um sonho implica colocá-lo em outros contextos, que acarretariam a perda de seu caráter enigmático. Nem tudo o que se faz ao interpretar um sonho é da mesma ordem. É essencial considerar o acontecimento, isto é, como se altera um sonho ao associar-se a outras ordens de memória. A crítica que tece a interpretação freudiana dos sonhos é que o acontecer psíquico pode ser motivado por múltiplas circunstâncias, e não só por um desejo que o analista tenta buscar. Portanto, a interpretação freudiana de que o sonho é uma realização de desejo não ultrapassaria, segundo Wittgenstein, o nível do que é procurado pelo próprio analista.
Oportuno reproduzir um trecho da Carta 44 da correspondência de Freud a Fliess:
“Se a não fossem designados todavia poucos anos mais de trabalho tranquilo, estou seguro de que deixaríamos um legado que justificaria nossa existência. Esta convicção me fortalece contra todos os pesares…