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Lugar
6 06-03:00 novembro 06-03:00 2019 @ 20:30 - 22:00
Lugar convida Flávia Castro, roteirista e diretora do filme Deslembro (2018) para uma conversa sobre seu trabalho.
Quarta-feira, dia 6 de novembro às 20h30
“Deslembro incertamente. Meu passado
Não sei quem o viveu. Se eu mesmo fui,
Está confusamente deslembrado
E logo em mim enclausurado flui.
Não sei quem fui nem sou. Ignoro tudo.
Só há de meu o que me vê agora —
O campo verde, natural e mudo
Que um vento que não vejo vago aflora.
Sou tão parado em mim que nem o sinto.
Vejo, e onde [o] vale se ergue para a encosta
Vai meu olhar seguindo o meu instinto
Como quem olha a mesa que está posta.”
Deslembro incertamente. Meu passado
Fernando Pessoa
A diretora Flavia Castro, reconhecida em 2010 por seu filme documentário “Diário de uma Busca” nos Festivais de Biarritz e Punta del Leste, Festival de Gramado e Festival do Rio, afirma que:
“Durante muito tempo, pensar em meu pai significava pensar em sua morte, como se pelo seu enigma e pela sua violência, ela tivesse apagado a sua história. Uma mala aberta sob a cama e meu pai indo e vindo… mas, não entendo que de repente no dia do aniversário dele… ele sabia dos riscos que era nos levar… o risco deu na prisão dele … voltando do exílio em 1979, antes de ver uma verdadeira democracia se instalar no Brasil, ele morreu, foi violento, foi dramático.”
Mas, “esse não é exatamente o tema do filme, e embora esse tenha sido um dos primeiros filmes a falar dos filhos dos militantes e exilados”, ela diz que “sua busca foi de aproximação com o pai a partir de seu amor por ele, a partir de sua subjetividade”.
Foi a partir da edição desse filme que Flavia Castro começa a pensar em fazer Deslembro. “Sentia a necessidade de fazer um filme que tocasse em temas mais difíceis de lidar em um documentário”. Começou a se dar conta que em relação a memória, “o trabalho ainda não havia sido feito”. Se confronta com “uma negação absurda da história”.
O ponto de partida do filme Deslembro é a volta de uma família de exilados que chega ao Rio após a anistia de 79. O ponto de vista de uma adolescente vendo essa chegada. “O contexto é o da minha vida e da minha adolescência , mas eu não tive um pai desaparecido.”
Uma parte do filme é autobiográfica com relação a volta ao Brasil . “A gente está em uma idade de transformações e ainda tem que se adaptar a um país novo, tem muito de minha história, do exílio, mas também da relação com a memória… a relação do nosso país, tem uma falta de memória. A gente está em um momento em que se está negando parte de nossa história, isso é um acaso… estou trabalhando desde 2009, e acho oportuno que o filme venha nesse momento, é muito triste, mas pode ajudar as pessoas a pensar e refletir sobre isso.”
O filme Deslembro estreou no Festival de Veneza e depois foi para Biarritz.
Escola Letra Freudiana
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