A própria psicanálise é virada pelo avesso com a aparição do escrito de 1920. A experiência em análise transcorre na palavra e é precisamente aí que se encontra o impossível de dizer.
O sintoma, que insiste no retorno do recalcado, mostra, na sua estrutura, o que não se inscreve. Isso exige uma torção nos princípios da economia psíquica. A suposição da existência de processos psíquicos, que operam à revelia do princípio de prazer, conduz ao estabelecimento de seu além. Contudo, a suposição não recobre o abismo do real ante o qual o sujeito se divide. Freud produz, então, a especulação que nomeia o risco na existência do ser falante: Todtrieb que traduzimos por ‘pulsão de morte’.
Em 2020, apresentaremos nossa tradução da obra que inaugura uma outra psicanálise e uma outra apreensão da cultura e do laço social entre os seres falantes. Poucos analistas se ativeram às consequências do que Freud enunciara nessa obra; com diversas argumentações rejeitaram a especulação freudiana.
Mas, haveria uma psicanálise digna desse nome que excluísse sistematicamente os efeitos da pulsão de morte que reverberam também na economia, na ciência e na vida?
Jacques Lacan sustentou sua transmissão em torno desse conceito. Melanie Klein fez dele a operação essencial da entrada do bebê no mundo.
É preciso navegar.
Eduardo Vidal
Início: março
Quintas-feiras às 20h30